sábado, 10 de abril de 2010

LÉS-BI-CA




Uma vez eu estava comentando sobre ser lésbica e…

- Ai, lésbica?! Que palavra horrível!

- Mas é o nome que existe, oras.

- Por que você não usa “gay”? “Gay” também serve para mulheres, não serve?

Pois bem. Servir, até que serve, mas não podemos usar outras palavras por termos medo dos termos corretos!

LÉSBICA. Que nome comprido. Três sílabas. A primeira já vem aguda, chamando a atenção de todo mundo. Léééééésssssss… E termina com um “ca” tão duro, tão seco e incisivo. Lésbica. Sem dúvida, trata-se de uma palavra bem forte.

Já “gay” não. Gay. Gay. “Gay” é uma fofura. Curtinho. Falando baixo, ninguém nem nota. Gay.

Acho que juntando a força da palavra em questão com o “mulher-com-mulher, que nojo, argh!” que aprendemos quando somos crianças, acabamos criando uma resistência e driblando o seu uso da forma que podemos. Somos sapas, sapatilhas, bolachinhas, fanchas, ou até mesmo lés, mas raramente somos lésbicas com todas as letras.

Imagino uma sala de aula, num encontro da Associação 43/44 Pelo Orgulho Lésbico, entidade sem fins lucrativos para levantar a auto-estima das mocinhas. Uma nova turma, acomodada em suas cadeiras, observa a palestrante – de braços cruzados, contra a lousa, em silêncio. Séria. Sapatão. Solteira?! De repente, um tapa firme no quadro-negro. Todas então voltam suas atenções para a palavra LÉSBICA, escrita ali em giz.

- Você!

- Eu?

- É, você mesma! O que veio fazer aqui?

- Ah, ééé que… sei lá, eu soube que ia ser um encontro… de… de meninas… que gostam de meninas…

- E isso não tem nome não?

- É, tem, tem vários… é…

- O que está escrito no quadro?! Lê o que está escrito no quadro!

- Ééééé… l-l-ésbica?!

- Não escutei. O que está escrito aqui?!

- Lésbica…

- Mais alto!

- Lésbica!

- ALTO!

- LÉSBICA!!!

- Muito bem, o que você é?

- Lésbica!

- Todo mundo junto agora!

- LÉSBICA!

- Se você é mulher, e gosta de mulher, então você é…?

- LÉSBICA!

- De novo!

- LÉÉÉÉSSSBIIIICAAA!

- É isso aí.

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